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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Ônibus vazio (quase literalmente)

     Pegar um ônibus sem ninguém dentro é uma tarefa extremamente improvável. Sempre imaginei que houvesse essa possibilidade. Utilizo algumas linhas que têm uma demanda que deixa a desejar, mas, mesmo assim, o desafio de ser o único passageiro era dificultoso. Certo dia, tive a oportunidade de completar esta missão. Não era um desafio, mas era algo que seria interessante (e foi!). Tenho dois casos.
      Um deles aconteceu em 2010: eu estava voltando para casa, como sempre. Quando eu me dirigia ao ponto de ônibus, passou por mim um carro da linha 172T/10 (Brás – Vila Nova Galvão): um Busscar Urbanuss Pluss OF-1721, o 2 2573 (atualmente aposentado). Ignorei-o e continuei a seguir meu rumo. Logo que cheguei ao ponto, também a ele chegava um outro Busscar Urbanuss Pluss OF-1721 (também aposentado). Desta vez, era o 2 2572 que, incrivelmente, fazia a mesma linha, e eu o peguei.
      Diferentemente de seu irmão, o 2 2572 tem letreiro eletrônico laranja e é um dos poucos Pluss do ano de 2001 que recebeu esse presente (que não é muito bom, pois é difícil de ler). A 172T é uma linha com intervalos geralmente longos e que costuma andar vazia. Um ônibus atrás do outro ocasionou o inevitável: havia somente eu e mais duas pessoas no cansado Pluss. O da frente roubou a maioria das pessoas que necessitavam da linha e eu acabei pegando o de trás por questão de segundos. Além de já ter roubado, ele ainda roubaria: ao chegar na parada do Metrô Santana, essas duas pessoas que estavam comigo no Pluss mórbido desembarcaram e apenas eu sobrei, e ninguém entrou, visto que o Pluss que ganhava a “corrida” (não duvido de que fosse uma) roubou os passageiros.
     Completei minha missão: fiquei sozinho. Mas este não era o único fato estranho: depois que estas pessoas desceram, o cobrador ficou louco para ver se ainda restara alguém no ônibus. Até levantei para mostrar a cara. Na hora de descer, apertei o botão de parada solicitada e o cobrador gritou: ”É o último!” Acho que estavam desesperados para se livrarem de mim (em outras palavras, para não terem nenhuma pessoa no ônibus). A maior prova disso é que, ao parar no semáforo de um cruzamento antes do ponto em que desço, o cobrador soltou: “Ei… você pode descer aí?” Como a distância não era tão grande (uns dois minutos a pé?) e eu quis colaborar com eles (haja visto o visível desespero), aceitei. O cobrador mandou e o motorista abriu a porta traseira. O Pluss prosseguiu com sua viagem sem ninguém dentro, provavelmente ultrapassando o amigo e recebendo mais passageiros ao longo do grande trajeto da linha 172T.
     Como eles não fizeram nada de grave, não havia um porquê para denunciá-los (é errado parar fora do ponto e eles quase me “obrigaram” a descer), a não ser que eu quisesse denunciar a porcaria do tempo que você fica no ponto esperando essa linha (o intervalo pode ter sido maior depois destes dois carros). Atravessei duas ruas a mais do que o esperado e essa foi a última mudança do dia.

     Em 2011 (esse ano!), há alguns meses, aconteceu o contrário: eu fui o primeiro a entrar num ônibus que não tinha ninguém, e depois entrou alguém. Em um dia aleatório como qualquer outro, estava esperando uma linha “legal” (para ser uma linha legal, a principal característica que a linha deve apresentar é ser vazia). Entre as legais, destacam-se 271C/10 (Praça da República – Parque Vila Maria), 172T/10 (Brás – Vila Nova Galvão), 107T/10 (Cidade Universitária Tucuruvi)e 177C/21 (Shopping Center Norte – Parque Edu Chaves). Elas sempre foram as mais vazias, todavia as outras linhas que serviam não listadas aí em cima, às vezes, também tinham seus momentos de glória, carregando poucos passageiros, não importando o motivo.
     Voltando à história, lembro-me de que peguei um Apache Vip OF-1721 na linha 177C/21 (o prefixo eu não lembro). Se não me engano, havia passado um outro carro da linha 177C/21 logo a frente, e adivinha o que aconteceu? Ora, é só pegar o assunto desse texto. Simples: entrei no ônibus e não havia ninguém dentro. No ponto do Metrô Santana, apenas um homem embarca, o que não é comum nessa linha — já fiquei em pé nela em Apache S21, que tem quarenta lugares para sentar. Quando desci, como costumeira e obrigatoriamente faço, apenas o tal do homem acomodava-se dentro do Vip.